sexta-feira, 26 de maio de 2023

A pedagogia da cruz e o anúncio da Graça





 Pelo Domingo de Ramos da Paixão Senhor, nós, queridos irmãos cursilhistas, entramos na Semana Maior da nossa vida espiritual. Assim era chamada a Semana Santa no início da Igreja. E hoje entendemos isso porque em todas as missas ao longo do ano seremos sempre inclinados a vivenciar novamente e atualizar os mistérios de Jesus que nessa semana se vive de forma intensa.

É dessa semana, por exemplo, que são consagrados os Santos Óleos que ungirão novos cristãos pelo Sacramento do Batismo, confirmarão na fé os cristãos pelo Sacramento do Crisma, ordenarão novos membros da Igreja pelo Sacramento da Ordem, e ungirão os doentes pelo Sacramento da Unção dos Enfermos. De fato, é nessa Semana que vivenciamos a centralidade da nossa fé, enquanto Católicos Apostólicos Romanos.

Para muitos, vivenciar essa Semana é se recordar do sofrimento e da dor de Jesus. Mas nesse artigo, venho dizer que, na realidade, o que nós devemos nos recordar é da vida e da transformação de uma realidade que se via sem luz, em trevas e escuridão.

Antes de tudo, gostaria de dividir nossa reflexão em três partes. São elas:

  • A cruz não é apenas uma lembrança de dor;
  • A cruz sem Cristo e Cristo sem cruz não faz menor sentido;
  • A cruz como anúncio do encontro com a Graça.

A cruz não é apenas uma lembrança de dor

Vale recordar que a cruz, na época de Jesus, era um sinal tremendo de castigo e dor. A cruz era a pior condenação que uma pessoa poderia ter. Era uma forma de mostrar o quão vergonhoso era fazer o que aquelas pessoas que morriam na cruz faziam.

E mesmo sendo a pior de todos, Jesus aceitou essa condição humano. Como estava escrito na 2ª leitura (Fl 2,6-8) desse Domingo de Ramos:

[…] Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz.”

No entanto, o que era vergonhoso e condenatório,  se tornou um sinal de abundância. Tornou-se Páscoa. Torno-se Graça. Tornou-se vida divina.

Flor de Maracujá

E sobre esse paradoxo de vida e morte, trago uma antiga lenda da origem da flor de maracujá. Entenda que essa lenda serve apenas para enriquecer nossa reflexão a cerca desse paradoxo.

Significado da Flor de Maracujá (O que é, Conceito e Definição) - Significados

Passiflora Incarnata é o nome em latim dessa flor que em português significa flor da paixão. E diz essa antiga lenda que nos pés da cruz a qual Jesus morreu, havia algumas flores que brotaram após seu sangue ser derramado sobre o madeiro seco e sem vida. Entre elas estava a flor do maracujá; razão pela qual, segundo a lenda, é roxa, simbolizando a paixão de Cristo.

É bonito perceber que onde existe secura, envelhecimento e desgraça (falta da Graça de Deus) pode existir vida pelo sangue de Jesus. E é Ele quem nos pede, nessa Semana Santa, a juntar nossas cruzes à Dele para que juntas elas possam dar vida.

A cruz sem Cristo e Cristo sem cruz não faz menor sentido

Nosso Carisma nos ensina que o Cristo que devemos nos recordar é o Cristo vitorioso, que após a sua morte, ressuscitou e foi ter com os seus no ambiente em quem sempre estavam reunidos. O MCC nos ensina isso, não porque devendo apagar o sofrimento de Jesus e apenas nos recordar das coisas satisfatórias. Pelo contrário, queremos nos lembrar da sua Paixão pela sua Ressurreição. Queremos olhar para a cruz e enxergar vida, saída, vitória e Graça.

No entanto, queridos irmãos, a Cruz sem Cristo é apenas um madeiro sem vida, e Cristo sem Cruz é apenas um mito. Entenda que nunca foi dito por Jesus que ele não teria que passar pela dor. Até mesmo São Pedro tentou se esquivar dessa missão de Jesus. Mas como relata Mateus 16,23, Jesus o repreendeu.

“Logo depois, Jesus falou sobre sua própria morte e Pedro o repreendeu. A resposta de Jesus foi áspera: “Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das homens” 

Paixão é uma palavra que vem do grego Páthos e significa sentimento de dor, compaixão ou empatia. Aristóteles , filósofo da Grécia Antiga, define a paixão (páthos) como o que move, o que impulsiona o homem para a ação. Perceba que a vida de Jesus e sua paixão são inseparáveis, visto que o que lhe impulsionava era a missão de salvar a todos. Mesmo sabendo que era preciso sofrer, sentir dor, agoniar-se. A sua paixão era o que o movia, logo é impossível pensar em Jesus sem nos lembrar de sua dor, de seu sofrimento, de sua morte.

Veja que Deus não nos criou para o sofrimento. Ele nos deu o paraíso por Adão e Eva. No paraíso existia tudo o que o homem precisava. Mas por concupiscência e avareza de Adão e Eva, ambos foram expulsos. No entando,foi em Jesus que recuperamos, por Graça de Deus, a entrada para o paraíso.

Quando Jesus ressuscitou e Maria Madalena foi até o sepulcro onde Ele estava ( Mateus 28,14-16), recorde-se que ela olhou para Jesus achando que era um jardineiro.

Então reparou que alguém estava atrás de si. Era Jesus, mas não o reconheceu.“Porque choras?”, perguntou ele. “Quem procuras?” Ela pensava que fosse o jardineiro: “Se foste tu que o levaste, mostra-me onde o puseste que eu vou buscá-lo.”“Maria!”, disse Jesus. Ela voltou-se para ele: “Raboni!”, que quer dizer: “Meu Mestre!”

Essa visão de Maria Madalena não foi uma confusão, mas uma promessa feita pelos antecessores de Jesus, os quais o anunciavam como o Messias, o Salvador, o Cristo. Jesus nos devolveu o Paraíso por amor e compaixão. É em Jesus, o novo Adão, que todas as coisas se recriaram. Foi pela sua morte que a vida ganhou um novo sentido.

A cruz como anúncio do encontro com a Graça

Por fim, querido cursilhista, vamos refletir a cerca da cruz como anúncio do encontro com a Graça.

Para exemplificar isso, trago uma pintura de São Bernardo de Claraval, abade francês do século XI, o qual teve uma visão. Aparentemente, pode parecer nessa pintura que São Bernardo o pega pelo braço como uma criança que necessita de cuidado.  Mas na realidade, era Jesus que descendo da Cruz vai ao seu encontro para abraçá-lo.

Um abraço à divindade: São Bernardo de Claraval | Tendências do imaginário

E essa pintura é o que nós cursihistas somos chamados a  vivenciar em nossa espiritualidade. O Cristo que nos abraça no alto da Cruz nos convida a ressuscitar com Ele, a vivenciarmos sua Páscoa com Ele.  É na sua cruz que o encontro com a Graça acontece.

Recentemente conduzi uma escola vivencial a qual eu contei minha experiência aos presentes. Refleti a cerca do meu Cursilho, o 2º tempo do método. Levei-os a fazer uma relação entre os dias antes de eu entrar na casa para realizar o Cursilho, os dias que estive na casa para realizá-lo e o meu 4º dia, após minha saída da casa.

Com isso, conclui com eles que os dias em que se antecederam o meu Cursilho foram os dias de paixão, dor e sofrimento. E ao entrar na casa para realizar o Cursilho, ao me encontrar com a Graça de Deus,  me deparei com a ressurreição.

Para mim, o meu Cursilho foi como essa pintura de São Bernardo. Recebi de Jesus, no alto da Cruz, um abraço. E esse abraço foi o momento em que eu ressuscitei nele e Ele ressuscitou em mim.

O Cursilho foi para mim uma Ressurreição. Após entender o sentido real da vida, pude rolar as pedras que não me deixavam enxergar a luz de Cristo. E assim, o Cursilho também pode significar um momento de ressureição para muitos.

Conclusão

Caro cursilhista, concluo esse artigo te convidando a viver essa Semana, a qual damos o adjetivo de Santa, entregando-se inteiramente aos mistérios de Jesus. Deixe ser amado por Ele. Deixe ser abraçado por Ele.

Santo Inácio de Loyola nos ensina em seus exercícios espirituais a viver os mistérios de Cristo com bom ânimo e generosidade. Seja generoso com o chamado de Jesus e tenha ânimo para fazer o seu percurso do calvário ao momento da sua ressurreição.

O VALOR DAS PEQUENAS COISAS





 A nossa vida é feita de pequenas coisas e, muitas vezes, nem nos damos conta do quanto elas são importantes. São realmente  as pequenas coisas que vão se juntado, somando e constituem  uma trama de relações, sentimentos, fatos, atitudes que vão gerando comportamentos e assim  formando a nossa história. Daí a importância de estarmos atentos e valorizar as pequenas coisas, pois normalmente elas carregam no seu interior grandes riquezas.

Precisamos  cuidar para não desperdiçar nenhuma delas, pois elas geralmente são o início, dão origem,  são fontes de grandes e decisivos acontecimentos de nossa vida. Quando olhamos, por exemplo,  para a nossa vida, percebemos que tudo começou com pequenas coisas, foram alguns passinhos, algumas palavras, pequenos gestos, um sorriso, um olhar e assim fomos tomando corpo e atitude de gente.

Ao pararmos e refletirmos sobre nossa história, com certeza, concluiremos que, de fato, foram as pequenas coisas que lhe deram e lhe dão  a identidade. Aquela palavra, aquele afago, aquele abraço, aquele beijo, aquele elogio, aquele encontro inesquecível, aquela festa, aquela queda, aquela vitória, todos vão construindo a nossa vida! Sim, as pequenas coisas são o tecido fundamental de nossa existência. Elas são como as células ou as moléculas de nosso organismo.

Às vezes elas acontecem tão espontaneamente e tão naturalmente que sequer as  percebemos, no entanto,  muitas vezes, elas são decisivas, por isso,  convido hoje meus leitores que, tomando consciência da importância das pequenas coisas que fazemos, como viver todos os dias, desde a higiene pessoal, do bom dia, da prece, do café da manhã, do sorriso que partilhamos,  do encontro com as pessoas,  do aperto de mão, nada fique  sem nosso calor humano.

Tenho certeza de que são as pequenas coisas que, no final de cada dia, são as que preenchem a vida. Nem sempre temos oportunidades para realizar grandes coisas e mesmo muitas vezes nem sequer surgem em nossa vida, já, as pequenas coisas estão ao nosso alcance todo tempo.

Felizes os que fazem das pequenas coisas degraus de perfeição. Felizes dos que valorizam as pequenas coisas para torná-las grandes no amor. Felizes os que fazem das pequenas coisas grandes atos de amor. Felizes dos que usam das pequenas coisas para devolver a alegria perdida, para reconciliar o separado, para confortar um triste, para estender a mão  ao caído, para oferecer o ombro ao desamparado. Felizes daqueles que aproveitam das pequenas coisas para se tornarem grandes na simplicidade e na humildade, a exemplo da Virgem Maria.

 

 

quarta-feira, 17 de maio de 2023

O INRI NA CRUZ




 Dom Leomar Antônio Brustolin

Arcebispo de Santa Maria (RS)

 

               A Semana Santa marca os últimos dias vividos por Cristo antes de sua Paixão, Morte e Ressurreição. As celebrações iniciam no “Domingo de Ramos”, que é o “Domingo da Paixão do Senhor”, em que se celebra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém e também a sua paixão e morte de Cruz. A Semana Santa encerra com a celebração do grande Tríduo Pascal. O Domingo de Ramos reflete sobre a Paixão e Morte de Jesus.  

              Jesus morreu, provavelmente, no dia 14 de Nisã, segundo o calendário da época. Era a Páscoa dos judeus.  As autoridades dos judeus o acusaram de blasfêmia por dizer que era o Messias, Filho de Deus e de subversão por ensinar a perdoar e a amar como expressão da vontade de Deus. Levado a Pilatos e a Herodes, foi acusado de promover desordem entre o povo e de se autoproclamar rei. (Lc 23,1-8). Jesus foi torturado e repudiado pelos soldados romanos. (Jo 19,1-5). Por fim, Pilatos lavou as mãos do sangue inocente de Jesus e o entregou para ser crucificado. (Mt 27,11-26). Ele carregou a própria Cruz até um lugar chamado Gólgota (lugar da caveira). Ali foi crucificado entre dois ladrões.  

              Acima da Cruz, constava o motivo: “O Rei dos Judeus” (INRI = Iēsus Nazarēnus, Rēx Iūdaeōrum). Geralmente, a cruz não passava da altura de um homem. Para se acomodar nela, a vítima devia ser pregada com os joelhos dobrados. Após várias horas de sofrimento, o crucificado tinha suas pernas quebradas, de modo a acelerar a morte. No caso de Jesus, não quebraram suas pernas. Para se certificarem de sua morte, deram-lhe um golpe de lança que perfurou seu peito, quando ele já se encontrava morto.  

  A sentença de morte não surgiu de repente na vida de Jesus; ela foi o preço que Cristo teve de pagar por sua opção fundamental e radical pelo Reino de Deus e sua justiça. Na Cruz, o Filho de Deus sofre e morre pelos últimos deste mundo: os pobres e injustiçados, doentes e rejeitados, pecadores e prostitutas. Jesus chama todos à conversão e revela que o amor é a medida de todas as coisas. 

 As palavras de Jesus eram fortes demais, e as multidões o seguiam. Aclamado como rei, entrou triunfalmente em Jerusalém. Como profeta destemido, apontava as infidelidades a Deus, denunciava as injustiças que o povo sofria e convocava todos à conversão. Como Messias, anunciava, com palavras e obras, a Boa-Nova da chegada do Reino de Deus. Jesus curava em dia de sábado, falava com samaritanos, tocava nos doentes.  

  Tudo isso desafiava os poderes políticos e religiosos estabelecidos na época. A crucifixão de Jesus foi decretada pelo poder romano como pena por agitar o povo e perturbar a ordem pública. Foi considerado um agitador, um perigo ao Império por ter sido aclamado rei pelo povo. A resposta do povo foi crucificar o “Rei dos Judeus”. A crucificação era a pena que se aplicava àqueles que se revoltavam contra a ordem social e política do Império Romano. 

               O amor do Pai, que Jesus revelou, teve uma resposta negativa por parte da humanidade. A doação total de Cristo na Cruz é a resposta à rejeição: “Maior prova de seu amor.” O mistério da Cruz revela o amor de Deus que deseja salvar todos, ainda que nem todos acolham esse sinal infinito de amor.  

             No Madeiro, todo ser humano sabe que, em seu sofrimento, tem alguém que lhe faz companhia, como bem rezou o Papa São Paulo VI: “Obrigado, Senhor, por esta piedosa solidariedade com nossa miséria. Obrigado, Senhor, por ter feito desta fraqueza uma fonte de expiação e salvação! Que eu sinta, como dirigidas a mim, as palavras de Santo Agostinho: ‘A força de Cristo te criou, a fraqueza de Cristo te redimiu’.” 

segunda-feira, 15 de maio de 2023

PASTORAL FAMILIAR DIVULGA NOVIDADES SOBRE EVENTOS NO SANTUÁRIO DE APARECIDA




 A Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF) divulgou novidades sobre dois eventos que serão realizados no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. O Encontro de assessores e bispos referenciais da Pastoral Familiar, marcado para 23 a 26 de maio, terá momentos de integração com um evento continental sobre a evangelização das famílias promovido pelo Conselho Episcopal Latino Americano e Caribenho (Celam). Já o 13º Simpósio e Peregrinação Nacional das Famílias, nos dias 27 e 28 de maio, teve a programação divulgada.

Bispos referenciais e assessores

O Encontro de assessores e bispos referenciais da Pastoral Familiar vai aprofundar diversos temas atuais na evangelização das famílias, a partir do tema “A alegria e a fraternidade como novos ‘lugares teológicos’, a partir dos 10 anos do Pontificado de Francisco e Evangelii Gaudium, bem como da Fratelli tutti”. Paralelamente, o Celam vai realizar um evento com representantes da Pastoral Familiar de cada país da América Latina e do Caribe, nos dias 25 e 26 de maio, e estará integrado em alguns momentos do encontro de assessores do Brasil. Os participantes do evento do Celam também estarão presentes no 13º Simpósio e Peregrinação Nacional da Família, nos dias 27 e 28 de maio.

Saiba mais no Portal Vida e Família.

Programação do Simpósio

A novidade sobre o Simpósio e a Peregrinação é que a programação foi divulgada. No sábado, os participantes estarão no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida, a partir das 8h. O simpósio contará com adoração ao Santíssimo Sacramento; reflexão da Palavra de Deus; exposição sobre o tema central do evento “Família, fonte de vocações”; testemunhos; dinâmica com os participantes; teatro; e apresentação do Simpósio Kids. Serão realizadas ainda a sala “conectando vocações” e a uma trilha vocacional.

No domingo, os romeiros da Peregrinação Nacional das Famílias vão se encontrar no Caminho do Rosário, a partir das 7h30 da manhã. Ali, a partir das 8h, será rezado o Santo Terço Vocacional. Às 12h, a Santa Missa da 13ª Peregrinação Nacional encerra os eventos na Basílica de Nossa Senhora Aparecida.

domingo, 14 de maio de 2023

Cidadãos brasileiros, mulheres e homens de boa-vontade, mais uma vez, conclamamos a todos:



Cidadãos brasileiros, mulheres e homens de boa-vontade,
mais uma vez, conclamamos a todos:

O Brasil vive uma grave crise – sanitária, econômica, social e política — exigindo de todos, especialmente de governantes e representantes do povo, o exercício de uma cidadania guiada pelos princípios da solidariedade e da dignidade humana, assentada no diálogo maduro, corresponsável, na busca de soluções conjuntas para o bem comum, particularmente dos mais pobres e vulneráveis. O momento que estamos enfrentando clama pela união de toda a sociedade brasileira, para a qual nos dirigimos aqui. O desafio é imenso: a humanidade está sendo colocada à prova. A vida humana está em risco.

A pandemia do novo coronavírus se espalha pelo Brasil exigindo a disciplina do isolamento social, com a superação de medos e incertezas. O isolamento se impõe como único meio de desacelerar a transmissão do vírus e seu contágio, preservando a capacidade de ação dos sistemas de saúde e dando tempo para a implementação de políticas públicas de proteção social. Devemos, pois, repudiar discursos que desacreditem a eficácia dessa estratégia, colocando em risco a saúde e sobrevivência do povo brasileiro. Em contrapartida, devemos apoiar e seguir as orientações dos organismos nacionais de saúde, como o Ministério da Saúde, e dos internacionais, a começar pela Organização Mundial de Saúde – OMS.

Os países democráticos atingidos pelo COVID-19 estão construindo agendas e políticas para combatê-lo de maneira própria, segundo suas características, mas, todos, sem exceção, na colaboração estreita entre sociedade civil e classe política, entre agentes econômicos, pesquisadores e empreendedores, convencidos de que a conjugação de crise epidemiológica e crise econômica assume tal magnitude, que só um amplo diálogo pode levar à sua resolução. É hora de entrar em cena no Brasil o coro dos lúcidos, fazendo valer a opção por escolhas científicas, políticas e modelos sociais que coloquem o mundo e a nossa sociedade em um tempo, de fato, novo.

Nossa sociedade civil espera, e tem o direito de exigir, que o Governo Federal seja promotor desse diálogo, presidindo o processo de grandes e urgentes mudanças em harmonia com os poderes da República, ultrapassando a insensatez das provocações e dos personalismos, para se ater aos princípios e aos valores sacramentados na Constituição de 1988. Cabe lembrar que a árdua tarefa de combate à pandemia é dever de todos, com a participação de todos — no caso do Governo Federal, em articulada cooperação com os governos dos Estados e Municípios e em conexão estreita com as nossas instituições.

A hora é grave e clama por liderança ética, arrojada, humanística, que ecoe um pacto firmado por toda a sociedade, como compromisso e bússola para a superação da crise atual. Como em outras pandemias, sabemos que a atual só agravará o quadro de exclusão social no Brasil. Associada às precárias condições de saneamento, moradia, renda e acesso a serviços públicos, a histórica desigualdade em nosso país torna a pandemia do novo coronavírus ainda mais cruel para brasileiros submetidos a privações. Por isso, hoje nos unimos para conclamar que todos os esforços, públicos e privados, sejam envidados para que ninguém seja deixado para trás nesta difícil travessia.

Não é justo jogar o ônus da imensa crise nos ombros dos mais pobres e dos trabalhadores. O princípio da dignidade humana impõe a todos e, sobretudo, ao Estado, o dever de dar absoluta prioridade às populações de rua, aos moradores de comunidades carentes, aos idosos, aos povos indígenas, à população prisional e aos demais grupos em situação de vulnerabilidade. Acrescente-se ao princípio da dignidade humana, o princípio da solidariedade – só assim iremos na direção de uma sociedade mais justa, sustentável e fraterna.

É fundamental que o Estado Brasileiro adote políticas claras para garantir a saúde do povo, bem como a saúde de uma economia que se volte para o desenvolvimento integral, preservando emprego, renda e trabalho. Em tempos de calamidade pública, tornam-se inadiáveis a atualização e ampliação do Bolsa Família; a rápida distribuição dos benefícios da Renda Básica Emergencial, já aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo Executivo, bem como a sua extensão pelo tempo que for necessário para a superação dos riscos de saúde e sobrevivência da população mais pobre; a absorção de parte dos salários do setor produtivo pelo Estado; a ampliação de estímulos fiscais para doações filantrópicas ou assistenciais; a criação do imposto sobre grandes fortunas, previsto na Constituição Federal e em análise no Congresso Nacional; a liberação antecipada dos precatórios; a capitalização de pequenas e médias empresas; o estímulo à inovação; o remanejamento de verbas públicas para a saúde e o controle epidemiológico; o aporte de recursos emergenciais para o setor de ciência & tecnologia no enfrentamento da pandemia; e o incremento geral da economia. São um conjunto de soluções assertivas para salvaguardar a vida, sem paralisar a economia.

Ressalte-se aqui a importância do Sistema Único de Saúde – SUS, mais uma vez confirmada, com seus milhares de agentes arriscando as próprias vidas na linha de frente do combate à pandemia. É necessário e inadiável um aumento significativo do orçamento para o setor: o SUS é o instrumento que temos para garantir acesso universal a ações e serviços para recuperação, proteção e promoção da saúde.

Em face da expansão da pandemia e de suas consequências, é imperioso que a condução da coisa pública seja pautada pela mais absoluta transparência, apoiada na melhor ciência e condicionada pelos princípios fundamentais da dignidade humana e da proteção da vida. Reconhecemos que a saúde das pessoas e a capacidade produtiva do país são fundamentais para o bem-estar de todos. Mas propugnamos, uma vez mais, a primazia do trabalho sobre o capital, do humano sobre o financeiro, da solidariedade sobre a competição.

É urgente a formação deste Pacto pela Vida e pelo Brasil. Que ele seja abraçado por toda a sociedade brasileira em sua diversidade, sua criatividade e sua potência vital. E que ele fortaleça a nossa democracia, mantendo-nos irredutivelmente unidos. Não deixaremos que nos roubem a esperança de um futuro melhor.

Dia Mundial da Saúde, 7 de abril de 2020

 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB

Felipe Santa Cruz
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB

José Carlos Dias
Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns – Comissão Arns

Luiz Davidovich
Presidente da Academia Brasileira de Ciências – ABC

Paulo Jeronimo de Sousa
Presidente da Associação Brasileira de Imprensa – ABI

Ildeu de Castro Moreira
Presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC


 

CNBB SE SOMA A UM GRUPO DE INSTITUIÇÕES CATÓLICAS NA PROMOÇÃO DE CURSO SOBRE PROTEÇÃO DA INFÂNCIA E PESSOAS VULNERÁVEIS




 “A proteção das infâncias e das pessoas vulneráveis na Igreja Católica”. Este é o título e o propósito do novo curso online disponibilizado gratuitamente pelo portal Farol 1817, da Província Marista Brasil Centro-Sul (PMBCS). A formação é resultado de uma parceria entre o Farol 1817, a PUCPR, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio do Núcleo Lux Mundi, o Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM) e a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB).

Este é um exemplo de diálogo e de ação da Igreja em resposta a uma realidade que clama por atenção. Afinal, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou uma média de 130 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes por dia, em 2021.

A irmã Anacleto Peruzzo, diretora de Vida Consagrada e do Centro Marista de Defesa da Infância da PMBCS, destaca a importância do curso para a sociedade: “Enquanto Cristãos, temos que estar atentos às necessidades de nossos semelhantes. Este curso nos prepara para entender as diversas situações de risco, identificar quando podem acontecer e, principalmente, saber como atuar na prevenção e na proteção de crianças e pessoas em situação de vulnerabilidade”.

O que o curso oferece?

Em síntese, o curso apresenta os principais conceitos e documentos internacionais e nacionais da Igreja Católica e da sociedade civil sobre a proteção de crianças, adolescentes e jovens e pessoas vulneráveis para o enfrentamento à violência sexual. A grade curricular é composta por quatro módulos, com o intuito de proporcionar um panorama mais amplo sobre a temática.

  • A dignidade humana de crianças, adolescentes e jovens
  • Os aspectos da violência sexual e o impacto na vida de meninas e meninos, mulheres e homens
  • Dinâmicas e perfis da violência e do abuso
  • O papel da instituição católica e da sociedade civil para romper ciclos de violência e garantir ambientes mais seguros

A saber, são 10h de conteúdo, na modalidade assíncrona. Ou seja, os interessados podem assistir aos vídeos no seu tempo, conforme suas disponibilidades de agenda. Além disso, recebem um certificado após a conclusão da formação com a chancela da PUCPR.

Time de especialistas a um clique

O time de professores do curso reflete a união de esforços entre instituições de diferentes países e de múltiplas áreas do conhecimento. Confira, abaixo, a lista dos ministrantes:

Danielle Espezim – doutora em Direito. Professora da Universidade do Sul de Santa Catarina e integrante do Núcleo de Estudos Jurídicos e Sociais da Criança e do Adolescente (NEJUSCA/UFSC).
Mario Antônio Sanches – pós-doutor em Bioética, doutor em Teologia, mestre em Antropologia Social e professor titular da PUCPR.
Eliane Freire Rodrigues de Souza De Carli – graduada em Medicina e Direito. Coordenadora do Núcleo Lux Mundi na Conferência dos Religiosos do Brasil e Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Ana Maria Aguilar Rebollo – psicóloga e mestre em terapia Gestalt. Diretora geral do Centro de Acompañamiento y Desarrollo Humano (CENADH).
Patricia Espinosa Hernandez – membro do Conselho para a Proteção de Menores da Conferência Episcopal Mexicana, da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores e Pessoas Vulneráveis e professora da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Padre Daniel Portillo – doutor em Psicanálise e em Teologia. Diretor do Conselho Latino-Americano do CEPROME. Professor da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Membro do Conselho Nacional para a Proteção de Menores da Conferência Episcopal Mexicana.
Doutor Stefano Mattei – administrador. Mestre em Leis do Nível II. Responsável pela Comissão de Políticas e Avaliação e por projetos com os dicasteries da Cúria Romana e das Diretrizes.
Bárbara Pimpão Ferreira – mestre em Educação. Especialista em Proteção Integral de Crianças e Adolescentes e Violência Doméstica contra Criança e Adolescente. Diplomada em Prevenção ao Abuso na Igreja Latinoamericana. Gerente do Centro Marista de Defesa da Infância.
Hugo José Sarubbi Cysneiros de Oliveira – assessor jurídico da Nunciatura Apostólica do Brasil, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC), de dezenas de Dioceses, institutos religiosos e entidades.
Irmã Maria Rosaura González Casas – doutora em Psicologia. Graduada em Química, Teologia e Psicologia. No Instituto de Psicologia da Pontifícia Universidade Gregoriana, atua na pastoral juvenil, vocacional, docente, formativa e governamental. Membro da Comissão para a Proteção de Menores da União Geral de Superiores e Superiores Maiores (UISG-USG), em Roma.
Nelson Giovanelli Rosendo dos Santos – especialista em reabilitação de jovens com histórico de dependência e de abuso de drogas. Bem como de violência física e sexual. Nomeado pelo Papa Francisco como membro da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores.
Cecília Heleno – Experiência de trabalho na área de educação, em equipamentos, serviços e projetos socioassistenciais, direitos de crianças e adolescentes e violências contra crianças e adolescentes.

Como acessar?

O curso foi desenvolvido, sobretudo, para religiosos, sacerdotes, leigos e leigas católicos, mas está aberto a todas as pessoas que queiram saber mais sobre como proteger quem mais precisa. Trata-se de um conteúdo rico, elaborado a partir de anos de teoria e prática de indivíduos e entidades da Igreja Católica.

Acesse o curso e saiba como participar (aqui)

O Farol 1817

Farol 1817 é um portal educacional da Província Marista Brasil Centro-Sul de cursos gratuitos, livres e de temas diversos, com foco na promoção do bem comum. É um espaço de formação e bem-estar, que busca proporcionar momentos de reflexão e conhecimento.

Os cursos têm o objetivo de desenvolver a espiritualidade, promover o autoconhecimento e aprimorar as habilidades profissionais que podem ajudar todos a alcançarem seus objetivos. Os cursos são pautados por valores como humanização, fraternidade, interculturalidade, simplicidade, solidariedade e sustentabilidade. Com formações variadas, eles são oferecidos em 4 eixos temáticos: Teologia e espiritualidade, Identidade e Missão, Gestão e Direito das crianças, adolescentes e jovens.

 

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

“Nenhum governo tem garantido o pleno exercício dos direitos dos povos da Amazônia”




 De acordo com Declaração, Amazônia vive sob múltipla opressão de um sistema patriarcal, racista, capitalista e colonial.

Rosa M. Martins/REPAM-Brasil

A afirmação faz parte da Declaração divulgada no final do X Fórum Social, por representantes dos mais variados povos dos países Pan-Amazônicos. O evento aconteceu de 28 a 31 de julho nas dependências da Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém, PA.

Ao denunciar que nenhum governo, até o exato momento, tem garantido o pleno exercício dos direitos dos povos amazônicos na defesa da Mãe Natureza, o Documento se faz consonante com a fala do Papa Francisco, em janeiro de 2018, – às portas do Sínodo para a Amazônia -, em Porto Maldonado, Peru, capital do Estado Madre de Dios na Amazônia, uma região que passou por desmatamento significativo (62.500 hectares entre 2012 e 2016) e também por violência significativa devido à mineração ilegal. No seu discurso Francisco foi enfático ao dizer que “a Amazônia está sendo disputada em todas as frentes e  existe a pressão exercida por grandes interesses econômicos que concentram sua avidez sobre o petróleo, gás, madeira, ouro e monocultivos agroindustriais. (…)”.

Francisco ainda chamou a Igreja e a sociedade para responsabilidade de mudança ao ressaltar que “nós devemos romper com o paradigma histórico que vê a Amazônia como uma fonte inesgotável de suprimentos para outros países, sem ter em conta seus habitantes.”

De acordo com a Declaração, a desigualdade social e a violência estrutural e factual que destroem e envenenam a vida no território, como a falsa premissa do desenvolvimento, a extração da borracha, madeira, petróleo, agronegócio, grandes hidrelétricas e mega-mineração que avançou sobre os diferentes territórios amazônicos e foi inserida em modelos de caráter colonial, incluindo propostas de mercantilização de elementos do bioma, são ameaças reais pelas quais têm passados os povos e a floresta.

O Documento traça proposta políticas e exigem “um modelo político, social e econômico que priorize a integridade de nossa casa comum, que reconheça e respeite os territórios e o pleno exercício dos direitos dos povos amazônicos e dos direitos da Natureza”.

Leia a íntegra do Documento:

Abraçados em frente ao Rio Guamá, no grande encontro de toda a diversidade que habita a Pan Amazônia, nós, indígenas, negros, quilombolas, camponeses, ribeirinhos, urbanos, de todos os gênero e faixas etárias dos nove países da Bacia Amazônica: Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, reafirmamos a viagem que começamos há 20 anos, desde o Primeiro Encontro como Fórum Social Pan-Amazônico, com a esperança de um “Outro mundo possível”. Não podíamos imaginar, na época, que hoje o mundo seria ainda pior.

2.    Hoje, a Amazônia está no seu pior momento, devastada por governos para os quais a natureza é uma mercadoria e os direitos dos povos não têm validade. Até hoje, nenhum governo tem garantido o pleno exercício dos direitos dos povos amazônicos na defesa da Mãe Natureza. Nesta situação, é necessário chamar os movimentos sociais, apelar para a criatividade, aprender com os erros e continuar a luta.

3.    O que percebemos ontem como ameaças são hoje realidades derivadas de um sistema de opressão múltipla: patriarcal, racista, capitalista e colonial, que localizou a grande Bacia Amazônica como sua mais recente fronteira de expansão, colocando em risco todas as formas de vida e aqueles que as defendem.

Sob a falsa premissa do desenvolvimento, a extração da borracha, madeira, petróleo, agronegócio, grandes hidrelétricas e mega-mineração avançou sobre os diferentes territórios amazônicos e foi inserida em modelos de caráter colonial, incluindo propostas de mercantilização de elementos do bioma. Sob este pretexto, os territórios estão sendo militarizados e os bens comuns saqueados, para gerar lucros. A desigualdade social e a violência estrutural e factual estão se aprofundando para a todas as populações da região Pan-Amazônica, que hoje vê como toda a vida está sendo destruída e envenenada.

4.    A atual crise climática e sua ameaça civilizacional, consequência do modelo de desenvolvimento, levou o ecossistema amazônico ao ponto de não retorno, ameaçando com a perda irreparável da floresta tropical mais importante do planeta e lar de mais de 50 milhões de pessoas, juntamente com boa parte da biodiversidade planetária. Se não pararmos esta tendência agora, amanhã será a morte da região Pan-Amazônica, vital para frear o aquecimento global e garantir a vida no planeta. O tempo está se esgotando.

5.    Indígenas, camponesas, negras, quilombolas, mulheres populares e urbanas, mulheres trans e lésbicas, uma força de resistência em defesa da vida, continuam a ser violadas pela ação e omissão dos Estados, fundamentalismos políticos e religiosos, patriarcalismo, racismo, militarização e corrupção, enraizadas e instaladas na nossa sociedade capitalista, que através de corporações transnacionais e forças econômicas expropria territórios com impunidade e promove a violação de corpos, o tráfico e controle de pessoas e modos de vida, a violência sexual, feminicídio, violação de direitos sexuais e reprodutivos, ataques contra a diversidade, dissidência sexual e de gênero.

6.    Toda a Bacia Amazônica está passando por uma situação de guerra não convencional, com a participação de forças militares estatais, paramilitares, milícias e traficantes de drogas agindo em conexão com grandes interesses econômicos. A isto se somam medidas coercitivas unilaterais, bloqueios financeiros e econômicos e ameaças militares impostas por grandes potências globais e por grupos fundamentalistas.

7.    Reiteramos que, embora os perigos tenham aumentado, as lutas e resistências adquiriram uma força sem precedentes, a partir da experiência das espiritualidades de nossos povos, que devem continuar a crescer como filhos da Mãe Amazônia. Neste sentido, os povos da Pan-Amazônia estão se organizando, se unindo, lutando por seus territórios e culturas, para tornar possível um futuro. Assim avançam as lutas anti-racistas, anti-patriarcais e anticoloniais, mantendo o otimismo que nos tem caracterizado, mas com um realismo que nos obriga a exigir o que é (im)possível. Este outro mundo é possível.

EXPRESSAMOS A NOSSA PROPOSTA POLÍTICA

8.    Exigimos um modelo político, social e econômico que priorize a integridade de nossa casa comum, que reconheça e respeite os territórios e o pleno exercício dos direitos dos povos amazônicos e dos direitos da Natureza.

9.    Recuperar, valorizar e proteger o conhecimento de homens e mulheres e as formas ancestrais de organização de nossos povos para o cuidado e gestão da água, a proteção de nossos territórios, que incluem nossos rios, limpos e livres de megaprojetos.

10. Nossas alternativas para uma terra sem males são a produção agrícola e florestal diversificada em harmonia com a natureza, agroflorestação, agroecologia, projetos para produção e consumo local, manejo comunitário dos bens comuns, florestas e território, uso de sementes nativas, ecoturismo comunitário, projetos de energias alternativas, cuidado e manejo integrado e participativo de bacias hidrográficas e biorregiões, e muitas outras iniciativas voltadas para a vida e não para a mercantilização da natureza.

11. Propomos articular esforços e lutas em defesa dos territórios da Pan-Amazônia e da vida, bem como, com outros movimentos sociais em outras regiões do mundo, contra o modelo econômico neoliberal patriarcal, colonial e racista que viola todos os nossos direitos individuais e coletivos, contra a corrupção e contra os fundamentalismos políticos, econômicos, socioculturais e religiosos.

12. Exortamos os governos dos países pan-amazônicos a porem em prática seus discursos contra a crise climática e os direitos da Mãe Terra, com medidas reais contra o desmatamento, a degradação e o aumento das emissões, e não com as maquiagens das chamadas economias verdes. Exigimos que eles cumpram e fortaleçam seus compromissos, assumidos em nível internacional.

13. Promover o exercício da autogestão e autodeterminação dos povos indígenas, negros, quilombolas, camponeses e costeiros, permitindo o exercício da gestão pública baseada em sua própria visão normas e procedimentos; isto requer, entre outras coisas, a implementação de mecanismos adequados às novas formas de planejamento que garantam seus modos de vida, respeitando suas cosmovisões. Sem a autogestão territorial dos povos, não há futuro para a Amazônia, nem para o mundo. Exigimos que os Estados cumpram plenamente as sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Além disso, o veredicto de 2015 de Kalina e Lokono pronunciado pela OEA deve ser aplicado pelo governo do Suriname. Finalmente, exigimos a autodeterminação da Guiana, ocupada pela França. Nossa Bacia Amazônica não estará completa até alcançarmos sua descolonização.

14. Rejeitamos as políticas públicas extrativistas dos governos que ameaçam a vida e a natureza. Exigimos o cumprimento do Acordo 169 da OIT, a assinatura, ratificação, respeito e implementação do direito de consulta e consentimento livre, prévio e informado, que inclui o direito de veto devido a objeção de consciência cultural no âmbito da autodeterminação dos povos, e exigimos manter os hidrocarbonetos no subsolo e uma Amazônia livre de mineração.

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