quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

O verdadeiro sentido do sacrifício da Santa Missa



A missa não é apenas sacrifício, mas também banquete, festa, uma celebração que é memorial, refeição alegre, festiva e atual da Páscoa de Jesus Cristo.
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
Vamos continuar a dedicar o nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II ao tema da reforma litúrgica trazida pelo evento conciliar.
Nessa reforma do Concílio, percebemos 10 aspectos de renovação, a partir da constituição dogmática Sacrosanctum Concilium. Aqui neste nosso espaço já tratamos sobre  “O valor da Assembleia Litúrgica”, “O uso da língua vernácula” e “A importância das duas espécies eucarísticas – Pão e vinho”.
No programa de hoje, padre Gerson Schmidt, incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre, nos traz uma reflexão sobre “O verdadeiro sentido do sacrifício da Santa Missa”:
“Queremos hoje falar de um 4° aspecto da Reforma Litúrgica proposta pelo Concilio Vaticano II – o novo sentido do ofertório na Missa. A constituição Sacrosanctum Concilium afirma que Jesus instituiu o sacrifício da Santa Missa, a fim de perpetuar nos séculos, até a sua volta, o sacrifício da cruz [1].
Por isso, o “sacrifício dos cristãos não pretende completar o sacrifício da cruz, porém, torná-lo presente, atualizá-lo, desenvolver no hic et nunc a sua dimensão interna” [2].
Entenda-se bem aqui o termo sacrifício, não como oferta penitencial meramente humana para merecer a misericórdia de Deus, mas como sacrifício verdadeiramente propiciatório de Cristo que se imola, da mesma forma como se ofereceu na cruz, uma vez por todas, que agora é oferecido e atualizado pelo ministério do sacerdote que preside o mistério [3].
Na história da controvérsia luterana, fora questionado a compreensão da Santa Missa como sacrifício, haja vista tantas ofertas votivas e exageradas dos fiéis.
O Concílio de Trento, e posteriormente com o movimento da reforma litúrgica que fomentou o Concílio Vaticano II, veio a definir com mais clareza essa realidade: ...diante das negações e distorções a respeito da eucaristia, o Concílio tridentino afirmou claramente que “a missa é verdadeiro sacrifício” e que “este carácter sacrifical, que não coincide simplesmente como a refeição como tal, mas é antes uma realidade particular, não contradiz de modo algum a unicidade do sacrifício redentor de Cristo; pelo contrário, sacrifício da cruz e sacrifício da missa são, em certo sentido, um único sacrifício [4].
A palavra sacrifício, referendada à Santa Missa, portanto, precisa ser bem entendida. Na religião pagã, a palavra é traduzida por “sacrum facere”, ou seja, fazer o sagrado. A missa, sabemos não é apenas sacrifício, mas também banquete, festa, uma celebração que é memorial, refeição alegre, festiva e atual da Páscoa de Jesus Cristo.
Assim, a Eucaristia seria muito mais um “sacrificium laudis”, um louvor e uma rica Ação de Graças (do grego, eukaristós) pela vitória de Cristo sobre a morte – e também nossas mortes. O sacrifício da cruz tem razão de ser em vista da Ressurreição, da festiva passagem (Pessach) da morte para a vida.  
O caráter sacrifical da missa, demasiadamente penitencial, foi acentuado por uma época na Igreja. Aqui usamos o termo “sacrifício”, usado também pelo Papa João XXIII, não em sentido absoluto, mas como um dos aspectos do Mistério de Cristo, em sua oferta na cruz como sacrifício único e total. São Cipriano afirma: “e uma vez que, em todos os sacrifícios, nós fazemos a memória da paixão de Cristo – é de fato a paixão de Cristo que nós oferecemos – nós não podemos fazer diferente do que Ele fez” (Carta, 63,17).
Por isso, a Eucaristia não é um sacrifício do fiel a Deus, mas de Deus ao fiel. Precisamos tirar a ideia pagã do sacrifício que seria oferecido para aplacar a ira de Deus, como os antigos holocaustos e sacrifícios pagãos. Como aponta a Constituição Dogmática Lumen Gentium: “todas as vezes que se celebra no altar o sacrifício da cruz, pela qual Cristo, nossa páscoa, foi imolado, atualiza-se a obra da redenção” (LG  03)".
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